Acredito
que pelo fato de uma das últimas ‘sátiras’ que vi e escrevi ter sido o filme Inatividade Paranormal 2, do gênio Marlon
Wayans, esperava que a obra a qual escrevo seria um desperdício de tempo,
recheado de palavrões, putaria, mulheres peladas, homofobia, racismo e outros.
Me enganei: Super Velozes, Mega Furiosos
não tem praticamente nada do citado anteriormente. É um bom sinal, mas não quer
dizer que seja um bom filme.
Super Velozes, Mega
Furiosos,
dirigido por Aaron Seltzer e Jason Friedberg, não pretende trazer nada de novo
em nenhum momento, ele apenas pega uma franquia famosa e tenta tirar sarro
disso a todo o momento. O filme nasce tão datado quando já com nem 10 segundos
observamos o título original do longa: SUPER FAST 8 (lembrando que o filme foi
lançado para aproveitar o filme Velozes e
Furiosos 7, que nem poucas semanas após a exibição já anunciou o oitavo
filme da franquia).
A
sinopse é: não vou perder tempo com isso. Mas se você viu algum dos filmes da
franquia Velozes e Furiosos pode
imaginar: tem o cara com o carro possante (Vin Serento), o policial disfarçado
de ladrão de carros possantes (White), depois aparece duas minas gatas que tem
relação com Vin Serento (Michele e Jordana), tem o delegado Johnson que quer
pegar os meliantes... sim, se você percebeu que o nome dos personagens faz
trocadilho com os principais atores da franquia satirizada, isso não é mera
obra do acaso.
Ao
longo do filme é comum observamos o citado no parágrafo anterior: o policial
disfarçado é boboca e está sempre faceiro, alegrão. O Vin Serento tem o mesmo
tom de voz um pouco rouco e “ó, sou fodão”, do Vin Diesel, a Michele de Super Velozes, Mega Furiosos, tem
insinuações o tempo todo de que é lésbica e curte isso, Jordana é uma morena
com mesmos ares de Jordana Brewster e assim vamos, o delegado Johnson a todo o
momento está com cara de invocado, tem dificuldade para entender tudo a sua
frente e está sempre passando óleo de bebê no corpo para ressaltar seus
músculos: um brucutu suadão e marombado, fantástico mesmo.
As
piadas nesta ‘comédia’ são igualmente óbvias. A garota que anuncia o ‘GO’ para
os carros começarem os rachas: é atropelada (a piada é tão legal que em outro
momento do filme teremos mais um personagem sendo atropelado). Enquanto os
carros voam usando... NITRO ('nossa parça, que original), o do mocinho tem
urina do ciclista Lance Armstrong (hmmm, urina de esportista que caiu em doping faz carro sair à milhão? Se a
novidade pega... teríamos carros usando o slogan: ‘Yellow is the new combustible’).
Outra coisa que reforça as piadas é a trilha sonora óbvia: normalmente é uma
trilha faceira, alegre. Quando temos alguns acordes um pouco diferentes é algo
como: cara, acabamos de lançar uma piada na tela, não viu? Olha a música, é de
comédia, comece a rir!
O
fato do filme não ser supostamente homofóbico e outros não faz com que seja
super elogioso: a todo o momento é insinuado que White é gay, desde seus
trejeitos até seu carro que é marcado pelo símbolo do arco-íris. E claro, a
frase famosa do trailer:
- o
que você está dirigindo?
-
Um carro... com unicórnios!
E a
plateia... UOOOOOOOOOOOOOUUUU.
Sério,
era para rir nesse momento?
Além
de ‘reforçar’ que não é filme com preconceitos (ou é de forma mascarada, cada um
tire suas conclusões), ele ironiza a maior parte dos filmes e mostra uma cena
em que muitas pessoas estão peladas, mas nada é visível: tudo aparece com
aquelas famosas marcações borradas. Ou seja: quem espera ver esse filme a
procura de nudez feminina gratuita vai se dar muito mal.
Outra
‘sacada original’ do longa é mostrar dancinhas o tempo todo, desde os
cumprimentos, até enfrentar vilão e se não dançar do jeito que ele quer vai levar
bala e morrer. Ou não, pois é outra coisa que o longa satiriza, o grande fato
dos filmes de ação e tiroteio ter milhares de... tiros disparados e
praticamente ninguém sair ferido.
O
que se mostra também recorrente no filme são os diálogos expositivos: em
determinado momento o policial White precisa fazer algumas perguntas para
Jordana e ele tem um script escondido com as perguntas. A primeira pergunta ele
faz olhando para o texto e a câmera então foca o texto. A segunda pergunta ele
faz de novo olhando o texto e a câmera de novo mostra o texto. A terceira
pergunta... CHEGA! Mais um momento brilhante de diálogo expositivo:
-
Cara, minha irmã está feliz com você, ele está radiante.
Corta
para a irmã de Vin Serento aparecendo iluminada, brilhando, ofuscando as
possíveis inimigas. Beijinho no ombro para o autor da ideia, foi algo... brilhante.
Ok,
tem um ou outro bom momento, incluindo o deboche com os personagens especiais
que aparecem na franquia original, como um japonês inteligente, um rapper para
participação original, uma gata modelo que é projeto de atriz e que
literalmente não tem nenhuma fala no filme, só faz o papel de ser gostosa,
balançar cabelo no ventilador ou usar roupas curtas. E claro, a tiração de
sarro com Jonah Hill e seu Anjos da Lei,
onde uma coisa que achava bem bolado era qualquer batida de carro gerar uma
explosão, mesmo onde parecia ser impossível acontecer isso. Pois aqui tem essas
menções, incluindo uma colisão de uma bicicleta em uma árvore, culminando com
uma... explosão. Michael Bay não viu esse filme, mas deve ter odiado.
Ao
final de seus quase 100 longos e cansativos minutos, Super Velozes, Mega Furiosos deixa claro que não é um filme
pedante, misógino, nojento e asqueroso como alguns dos filmes recentes do gênio
da comédia satírica da atualidade, Marlon Wayans. Ok, isso é bom, mas é muito,
muito pouco, para tirar o filme da mesmice e mediocridade que permeia
praticamente todo o longa.