Não
é novidade que uma parcela considerável dos filmes atuais ou são reboots,
remakes, refilmagens ou ainda continuações desnecessárias de um grande filme
(às vezes basta ser tão somente mediano que já teremos maneiras de criar novas
obras a partir do mesmo). Com Jessabelle
- O Passado Nunca Morre não temos tal situação, mas talvez algo pior: um
filme que não define o rumo a ser tomado e segue com várias referências de
filmes de terror o tempo todo, parecendo uma cópia – muito – mal feita de
todos.
Em Jessabelle observamos de cara um
acidente de carro que faz com que Jessabelle (Sarah Snook), grávida, perca seu
futuro bebê e o marido. Sobrevivendo com muita dificuldade, precisará de
fisioterapia por vários meses para poder retomar sua vida. Para tanto, seu pai
afastado é o único parente que ela possui para levar para casa e seguir sua
nova rotina (sua mãe morreu décadas atrás). O que acontece na sua vida a partir
do momento em que começa a repousar na casa de seu pai irá ‘desencadear uma
série de incríveis e assombrosos fenômenos que irão deixar a protagonista com
vida aterrorizada’.
Sim,
já vimos algo do tipo antes. Mas aqui é mais esculhambada que em outros tantos
filmes.
A
trilha sonora é mal utilizada e óbvia por diversos momentos, trabalhando sempre
com a ideia de que se teremos algum momento de tensão, aumenta o som na caixa, coloca
algo para assustar e pronto! Temos a ‘construção musical’ da cena. Além disso,
a música é totalmente desnecessária em alguns momentos do longa, tentando
construir tensão em uma mera conversa de bar, em determinada parte do filme.
A
fotografia de Michael Fimognari se mostra igualmente deficitária: se você está
em um dia alegre ou em um dia tenebroso, a paleta de cores parece idêntica. A
casa onde fica Jessabelle deveria aparentar algo velho, mal cuidado... mas as
cores mostradas são as mesmas de quaisquer outros cenários (ok, falha também da
produção de artes e cenários). Para não ser do todo injusto com a fotografia de
Jessabelle, quando temos alguma
mudança ela surge de maneira absurda, muitas vezes adiantando algo como:
mudamos de tom iluminado para cinzento em questão de segundos, preparem-se que
os sustos e o terror vai recomeçar. Pior que isso é quando a fotografia
contrasta de maneira equivocada com o clima proposto no filme. Sem maiores
spoilers, mas seus minutos finais querem tentar um momento – sonolento – de
tensão ao espectador, trazem os atores se esforçando para conseguir isso, a
trilha sonora igualmente, mas a fotografia inexplicavelmente muda para algo
super iluminado, vivo, como se o próprio diretor do filme Kevin Greutert
estivesse de acordo com a ideia e dizendo: ok, vamos sabotar esse filme e
misturar as coisas.
Aliás,
misturar as coisas parece ser uma palavra correta para o roteiro: o roteirista
Robert Bem Garant não sabendo contar uma história original, trabalha com ideias
já lançadas no cinema ao longo das últimas décadas, não sendo muito necessário
o espectador ser um amplo conhecedor de cinema para reconhecer no filme
elementos de filmes envolvendo espíritos, de O Chamado, O Bebê de Rosemary (não propriamente na questão
principal daquele clássico, diga-se), A
Chave Mestra, entre outros. Pior que isso é querer que a plateia aceite que
nos anos atuais você vá morar uns tempos em uma casa de campo isolada e a
pessoa por lá tenha a plena disposição um videocassete funcionando, para a
partir disso a protagonista observar as tais fitas VHS e parte do enredo
começar a se desenvolver. E fechando de roteiro: em determinado momento comecei
a lembrar de P.S. Eu Te Amo e A Casa do Lago, e isso NUNCA é um sinal
positivo.
Os
atores fazem o que podem em cena: temos David Andrews como Leon, o pai da
protagonista (mais parecendo um Sam Elliot versão orçamento restrito), que
pouco fala e quando às vezes interage mais, é quando está bêbado e acaba se
irritando, sai quebrando coisas e tentando colocar fogo em tudo (nem sempre ele
consegue, às vezes sim). Temos Mark Webber como Preston (novamente, mais
parecendo um Chris Evans versão orçamento restrito) e que tenta ajudar
Jessabelle na recuperação e nas loucuras que irá enfrentar nos pouco menos de
90 minutos de filme. E claro, a protagonista interpretada por Sarah Snook se
esforça para seguir sua vida em um local fora de seu habitat inicial, mas o
roteiro ineficiente faz de Jessabelle uma personagem que fica difícil de criar
empatia. Ainda mais quando se fica constantemente quebrando a quarta parede.
Não dela com o espectador, mas com uma fita cassete (praticamente interagindo
com sua mãe Kate, morta, interpretada por Joelle Carter).
Ao
longo do filme você já vai mais ou menos sabendo o rumo que terá aquela
história ao final, mas nem isso a obra deixa o espectador juntar as peças
sozinho, trazendo aquele momento estilo Scooby-Doo, explicando rapidamente tudo
o que aconteceu para chegarmos naquele desfecho preguiçoso e com ares de
ohhhhh, teremos uma continuação??!!
Um
filme que mistura, como eu disse antes, ideias de A Casa do Lago, P.S. Eu Te Amo, A Chave Mestra, O Bebê de Rosemary
e O Chamado, entre outras tantas
obras não é um bom filme, não pode ser. Uma coisa é você homenagear
clássicos/bons filmes, outra é não ter uma história própria e ir acrescentando
ideias ao longo da projeção para finalizar de vez o filme. Jessabelle – O Passado Nunca Morre é assim, uma mistura indigesta
de várias ideias, mas sem uma identidade própria. Que morte horrível.
Observação final: ao final do filme alguém se
levantou e falou em voz alta (MEGA ULTRA SPOILERS SPOILERS SPOILERS): “mas o
filme/desfecho é A Chave Mestra
piorado!”. Se você gosta de A Chave
Mestra, vá esperando algo que sim, lembra MUITÍSSIMO o desfecho do filme de
10 anos atrás, com a Kate Hudson.
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