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12/10/2013

Gravidade


Já falei por aqui (ou por ali, que seja) que expectativa é uma coisa complicada: você pode estar super empolgado e depois de um tempo você cai na realidade, o castelo de areia desmorona na primeira onda e o filme é uma porcaria. Mas tem o outro lado: sabe quando tu esperas muito e recebe mais do que isso? Gravidade é um desses casos em que a expectativa é plenamente superada, com doses generosas de emoção, tensão, ação e por ae vai.

Dirigido por Alfonso Cuarón, após um hiato de 06 anos (Filhos da Esperança, que filmaço!), Gravidade tem um plot bastante simples: no espaço, a 600 km da terra, astronautas fazem manutenção no telescópio Hubble. Um acidente quebra a tarefa rotineira, transformando a jornada em uma luta por sobrevivência, em meio a imensidão do universo.

O roteiro de Cuarón, escrito em parceria com seu filho Jonás Cuarón, prende o espectador por 90 minutos, em meio ao espaço, no universo quase que infinito. Entretanto, alguns poderão se incomodar em certo momento do 2º para o 3º ato, aquele que talvez seja o único momento em que nos deparamos com um pequeno deslize no roteiro, mas que ainda assim entendo como justificável em virtude da inconsciência da Doutora Stone, e os efeitos que isso pode causar (não falarei claramente desse momento, veja o filme e entenderá).

Mesmo que seja de conhecimento que Cuarón não é diretor de apenas um gênero específico (vide sua filmografia que varia de A Princesinha para o já citado Filhos da Esperança, de ...E Sua Mãe também para Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban), é sabido de seus habituais planos-sequência e em Gravidade não é diferente. Repare na abertura do filme, um plano-sequência com mais de 10 minutos, nos apresentando primeiramente uma visão do universo, depois aproximando até a nave espacial, os personagens, até o momento do acidente e toda aflição e tensão do que irá acontecer dali em diante. Um dos melhores momentos do cinema em 2013! Aliás, já através desse primeiro plano-sequência é que teremos uma boa ideia do que será o filme: tendo em vista a gravidade zero no espaço, observaremos Cuarón utilizando sua câmera das mais diversas formas, com planos abertos e fechados, zoom in e zoom out com aproximação e afastamento, possibilitando tanto uma visão única do universo (e repare na genialidade do diretor, no momento em que nos proporciona, no mesmo plano, uma visão ampla do que os personagens principais estão passando para uma visão sob o ponto de vista da protagonista) como ampliando a tensão do longa. Ainda sobre o universo, a fotografia de Emmanuel Lubezki é soberba do início ao término do filme e isso fica ainda mais ressaltado se visto em IMAX e em 3D. E sobre o 3D, além de ser altamente recomendado pela profundidade de campo do filme, em certos momentos nos aproxima ainda mais dos astronautas, no espaço, dos destroços e tudo mais (e sim, para quem ainda acha que 3D é legal pelo fato de ter objetos jogados na tela como que em direção ao espectador, esses momentos existem, em pequena escala, mas existem).

Há de se destacar o excepcional design de som de Gravidade, que reforça os sons diegéticos, tais como a respiração dos personagens, ruídos de comunicação, como a própria comunicação entre a tripulação e Houston. Aliado a isso, temos o imprescindível trabalho de trilha sonora de Steven Price, que é espetacular, tanto reforçando momentos de alívio, como a bela visão do planeta terra, do universo e tudo mais, como também momentos pânico e tensão, como no toque forte e retumbante, no momento em que percebemos que os estragos do acidente foram muito além de destroços espaciais.

Por mais que haja, em certos momentos, interações com vozes além do espaço infinito (curiosidade: Ed Harris é um dos doutores que integra a missão espacial e também participou de outro filme envolvendo espaço, Apollo 13), o filme tem apenas dois personagens centrais: Dr. Matt Kowalski, interpretado de maneira sempre natural por George Clooney, representa em um primeiro momento o alívio cômico do filme e posteriormente a ponte de salvação para Dra. Ryan Stone. E falando em Ryan Stone, deixem de lado qualquer preconceito que tenham com a atriz: Sandra Bullock domina a cena. Em um filme no qual boa parte da projeção é feita de cenas do universo, destroços espaciais e desolações, Bullock traz uma atuação empolgante, que em sua primeira viagem espacial já fica a beira da morte, praticamente, em determinado momento. A impressão de que a morte é inerente, e após escapar com vida de uns dos (entre tantos) percalços no espaços, a personagem descansa como que reconhecendo que aquilo foi o seu renascimento (tal sentimento é reforçado quando observamos Stone parada, no silêncio, em posição quase fetal). Não há como não ficar admirado com sua atuação e mais, com a transformação de sua personagem, que de novata passa a lutar praticamente sozinha por sua sobrevivência, que outrora admiradora do silêncio espacial, que ficava incomodada com música, quase ao final de tudo fica simplesmente feliz ao ouvir alguém cantando e até um cachorro latindo (nisso, há de se ressaltar, entre tantos momentos, a habilidade da atriz em determinada cena onde muda da alegria para tristeza em questão de segundos e de forma surpreendente), uma atuação que certamente é digna de prêmios e por que não dizer, de no mínimo uma indicação ao Oscar 2014.

Tendo em seu belíssimo e ousado plano final uma imagem que remete imediatamente ao quanto à natureza do ser pode se agigantar perante suas adversidades, Gravidade é um filme que provoca em nós as mais diversas reações: da calmaria ao pânico, do alívio à tensão, da vontade de morrer até a retomada para a vida. Aliás, se pudesse definir em poucas palavras a experiência que é ver Gravidade (de preferência em 3D e IMAX, com tudo que tem direito), faria minhas as palavras da Doutora Stone, em certo momento de sua jornada:

- De um jeito ou de outro, será uma experiência incrível.


Cotação: 5/5

Um comentário:

  1. Gente, eu saí do cinema ontem com esse filme na cabeça. Achei ele impressionante, e concordo contigo: provoca tudo na gente, medo, calmaria, alívio, tensão constante... Tudo! E a Sandra Bullock tá fodona demais mesmo, com o perdão do meu francês.

    Outra coisa é que fiquei feliz que notaram a cena em que ela descansa em posição fetal como algo mais do que simplesmente descansar. É o primeiro passo dela de renascimento. É muito legal.

    A mensagem do filme é ótima, e vê-lo em 3D CARA foi muito massa. Hehehehe.

    Beijo! :)

    Raquel
    www.pipocamusical.com.br

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