Minha
história com os filmes de Evil Dead já vai de anos. Lembro-me de nos
anos 90 ter ficado empolgado com uma análise na revista SET, falando muito bem
do filme que fechava a trilogia Uma Noite Alucinante. E em termos que a
comunicação era pelo boca a boca ou cartas, eu ficava procurando em locadoras e
só achava Uma Noite Alucinante 2, e nada do primeiro filme (sobre o segundo
filme, uma breve curiosidade: de sexta para sábado, lá no alto dos meus 13 ou
14 anos, decidi ver Ben-Hur na madrugada do plim-plim. E fui, resisti até onde
pude, mas... peguei no sono. Quando acordei, nada mais de corrida de bigas e
sim uma casa abandonada e no mínimo suspeita. E foi assim que vi pela primeira
vez Uma
Noite Alucinante 2, em um corujão da vida no fim de semana... a
ideia original era ver o filme mais Oscarizado da história do cinema: no fim
acabei vendo um cara que tinha um motosserra no lugar da mão... foi uma troca
justa). Anos depois descobri que o
primeiro filme aqui no Brasil teve o nome de A Morte do Demônio e só depois,
os seguintes, é que foram intitulados de Uma Noite Alucinante.
Mas
ainda sobre o primeiro Evil Dead, lembro-me da minha reação ter sido
das melhores, mas ainda assim ter sido surpreendido por não achar tão ou
completamente apavorante o filme e até ter dado boas risadas ao longo da obra.
Posteriormente, emprestei o filme para um colega de serviço que devolveu com o seguinte
comentário: esse filme é um ‘abacaxitos’, muito tosco! Ora, A Morte do Demônio
(o original) é um filme de baixo orçamento até para os padrões americanos da
época, com efeitos especiais ridículos e tudo mais... mas ainda assim, um até
então desconhecido Sam Raimi mandou muito bem na história de vários amigos que
vão até uma casa abandonada na floresta e que, lá pelas tantas, acabam lendo o
livro dos mortos (Necronomicon) e despertam uma terrível maldição para aquelas
pessoas. Quando finalmente começaram a falar que o remake finalmente iria sair,
pensei: manterão o mesmo estilo, o diretor será o mesmo, tudo será igual?
Felizmente
não. De uma maneira geral gosto dos filmes de Sam Raimi (além ‘dos Evil Dead’,
acho muito bom Darkman, acho divertidíssimo Arraste-me para o Inferno – porra,
até bigorna tem – e os filmes do cabeça de teia são muito bons, inclusive o
terceiro, filmaço), mas um remake, ainda mais de um símbolo do terror dos
anos 80, o bom seria um diretor novo, desconhecido para o grande público, tal
como Raimi era na época. Fede Alvarez foi o escolhido para o projeto, até então
famoso pelo curta uruguaio Ataque de Pânico, no qual Montevideo é invadida por
robôs, alienígenas e outros. E então, finalmente, temos o novo A Morte do Demônio
(2013).
Alvarez
acerta em mostrar que a sua versão deixa claro que não há espaços para piadas,
para humor inesperado ou involuntário, aqui a coisa é séria. Toma rumos
próprios, não parecendo uma mera cópia atualizada da obra original de Sam
Raimi. No original, o livro sendo queimado já basta (falando de maneira
rasteira e a grosso modo, óbvio), aqui a tentativa é feita e é claro, não
resulta em nada. A ideia de vários amigos irem acampar em uma casa no meio da
floresta também me pareceu ser mais razoável do que no original. No fim das
contas alguns até podem ter sua interpretação sobre a tudo que acontece na
floresta com a protagonista (sim, ela, o que sempre é bom encontrar em filmes e
aqui não é mais novidade e felizmente não choca mais a plateia ou a deixa
perplexa, como aconteceu com, digamos, Alien, quando nos deparamos com Ripley
sendo a fodona do espaço e não um homem), que na sua jornada para tentar largar
o vício das drogas, de ir ao inferno e supostamente voltar (entendam como
queiram tais palavras) com tudo o que passa na floresta, reflete muito bem seu
momento de viciada e tentar se livrar disso. Aliás, comentando todos esses
momentos de rumo próprio que Alvarez toma com seu filme, devo dizer que fiquei
no mínimo decepcionado com as principais referências em relação a obra
original, que neste filme parecem tão superficiais ou deslocadas, colocadas em
cena apenas para não esquecer as tais cenas obrigatórias. Dito isso, a árvore
estupradora que no original gera uma cena insana e surpreendente hilária aqui
parece desnecessária e sem maiores sentidos. Ainda tentando fazer ligações com Uma Noite
Alucinante 2 e 3, a clássica cena da serra elétrica no lugar da mão,
mesmo que utilizada como último e único recurso da protagonista, igualmente soa
mais como uma homenagem ao filme dos anos 80 do que como uma ação orgânica
deste novo filme. E é preciso dizer que Alvarez é habilidoso além do gênero de
terror, vide a cena em que observamos a tentativa de ressuscitar determinado personagem
e que tem a trilha sonora e grau de tensão adequados. O problema todo da cena é
o fato dela ser um belo momento dramático em um filme de terror, o que para mim
não funcionou muito bem.
Tendo
em seu último ato uma inspiradíssima batalha travada com litros de sangue em
meio a chuva (méritos para a fotografia de Aaron Morton, em especial nesse
ponto, onde a tela se afunda em um vermelho de raiva e de um desejo por matar
desenfreado e plenamente justificado), Evil Dead – A Morte do Demônio me agradou
especialmente pela liberdade tomada em relação a sua obra original e pela
renovação em relação ao clássico de Sam Raimi... e que venham mais longas
dirigidos por Alvarez!
P.S.:
ótimas cenas pós-créditos, que podem gerar interpretações variadas, incluindo
ae o último frame, para nunca esquecermos que Bruce Campbell é um cara legal,
no mínimo isso!
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