Atenção:
isto não é uma crítica. Talvez nem bem possa ser considerado um texto, na
concepção da palavra. É apenas um relato sobre os acontecimentos de uma sessão
de cinema de um filme ruim. Se você não quer saber o que acontece no filme, a
história acaba aqui. Se você quiser continuar, siga por sua conta e risco, mas
lembre-se: a escrita está no mesmo patamar do filme visto. Os relatos abaixo
são reais e foram exibidos no filme Inatividade Paranormal 2. Qualquer dúvida se
isto é real ou imaginação do escritor, recomendo que veja o filme. E
divirta-se, caso consiga.
Lembro-me de ver Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu quando tinha uns 8 anos e achar
graça. Depois rever com 18 anos e achar graça. Igualmente com 28 e 38 (opa,
essa última ainda não). Mas, essencialmente, eu olhava o filme quando era
criança e não olhava escondido. É bem provável que quando criança não pegasse
todas as piadas envolvendo sexualidade, mas isso era o de menos, eram (ou são,
faz tempo que não olho o filme) piadas de fácil compreensão e principalmente,
nada apelativas ou pornográficas. Era um filme, considerando seus momentos
obviamente politicamente incorretos, para todas as idades (ainda sonho com o
dia em que filmes como Vivos, Apertem os
Cintos, o Piloto Sumiu, O Voo e outros sejam exibidos em viagens aéreas,
mas acredito que irei morrer sem ver isso, o público é muito, digamos, medroso,
borrão... mas divago), com bom ritmo e com uma ideia de roteiro. Digo tudo
isso, pois ver Inatividade
Paranormal 2 é o completo oposto, uma sucessão de momentos sem
graça, imbecis, racistas e claro, com conteúdo de apelo sexual de extremo
mau-gosto.
Vagamente, muito vagamente, lembro-me do
primeiro filme, que tinha as referências aos filmes recentes, tinha transa com
bicho de pelúcia (essa foi o amigo Rafael Botelho que me lembrou) e que ao
longo de seus cansativos mais de 80 minutos, quase esbocei um sorriso em alguma
parte do filme (não lembro, não interessa e não importa qual parte do filme).
Esse segundo não foge muito à linha da ‘primeira parte’. O filme estrelado por
Marlon Wayans (esse cara realmente é bom, faz uns filmes ruins da porra e
sempre consegue verba para mais filmes, quero saber qual é o seu segredo... na
verdade não quero não). De novo, as referências trabalham em cima (ou debaixo,
na diagonal, coisas do tipo) dos filmes de terror que simulam gravações
supostamente reais e amadoras encontradas posteriormente por alguém, contendo
imagens do tipo: fantasmas se divertem (pera, esse é outro filme),
ruídos estranhos na madrugada, vultos, objetos se movendo sem explicação
aparente, essas porcarias todas. Mas, como começa o filme? Depois de sofrer um
acidente de carro e perder sua namorada (que naquele momento estava possuída) –
Kisha (sim, começo do filme é a referência ao SPOILERSSSSSSSSSS final de A filha do Mal), temos um salto na
história (começou cedo a originalidade) e observamos o protagonista casado com
uma loira mãe solteira, e então eles resolvem mudar de casa. O resto você pode
imaginar.
Ou não pode. Pense nas situações absurdas e sem
graça que está acostumado a lidar. É pior. Wayans (que ‘roteirizou’/participou
da produção do filme) e Michael Tiddes (diretor do filme) devem acreditar que
jogar em cena referências e mais referências a dezenas de outros filmes, sem
importar qual o sentido delas em cena, já basta para um bom filme. Além disso,
Wayans (como ator) opta pelo exagero em praticamente todas as cenas. Isso fica
claro desde o começo, quando em determinado momento o cachorro de estimação
morre esmagado e Wayans fica quase 1 minuto chorando, atirado no chão, querendo
que o cão sobreviva, falando todo o tipo de asneira, e possivelmente
acreditando que está causando bem estar e riso na plateia (por sinal, cena
semelhante já acontece no primeiro filme e não tem a menor graça). A propósito:
na cena citada do cão observamos outro aspecto genial do humor do filme: o
preconceito racial. Em boa parte do filme vemos um vizinho mexicano, que só
entra em cena para ficar falando que Wayans é racista e tudo mais, que tem
preconceito contra os mexicanos e outras etnias. Malcolm (interpretado por ele
mesmo, Marlon Wayans) fica assustado, diz que não é nada disso, que é
brincadeira e o mexicano então começa a rir e solta: estou te tirando cara, é
tudo brincadeira. Na primeira cena você já percebe, seja pela péssima atuação
do elenco ou pela direção nada eficaz de Michael Tiddes, que aquilo tudo é uma
encenação sem a menor graça. Agora imagine repetir isso por 3, 4, 5 vezes ou
mais durante a projeção: e vocês reclamando da piada do tio do pavê. Além da
piada com o mexicano (que repito, não existe graça alguma e isso não é pelo
fato de ser brasileiro e/ou supostamente não vivenciar diariamente com
americanos e o caso de mexicanos imigrantes e, em muitos casos, ilegais, na
terra do Tio Sam) observamos a todo instante o confronto branco x negro, dessa
vez tendo como base a raça negra (não a banda, no campo da ruindade estamos
falando de filmes...). Lembra do cão? Pois é, um dos momentos hilários do filme
é naquele que o cão está esmagado e Malcolm solta a pérola: ‘liguem para o 911,
avisem que o cão é branco, o cão é branco!’. Não achou hilário? Nem eu.
Mas Maza, e as referências ao ‘cinema de horror’?
Elas estão lá, temos referências ao já citado A Filha do Mal, tendo a leve impressão que no começo tem uma
referência ao Caça-Fantasmas (ok,
não é cinema de horror, mas já que falei de referência), A Entidade, Possessão, Atividade Paranormal (óbvio, diria
alguém...), Invocação do Mal... mas
as referências, as ‘homenagens’ aos filmes são péssimas, são piadas simplórias
que não esboçam nenhuma reação de possível sorriso no rosto do espectador.
Reação de bocejo sim, sorriso não. Em Possessão
temos as borboletas (ou seja, lá o que são aqueles seres voadores que parecem
borboletas possuídas) no quarto da filha de Malcolm e a forma de como matá-las
(aspirador de pó e lâmpadas por todo o quarto, alguma graça?). Em A Entidade temos um vídeo caseiro com o
assassino tentando queimar as pessoas dentro do quarto e ele próprio acaba se
incendiando (sério, onde está a graça nisso tudo, estaria Wayans e sua equipe
pensando no público piromaníaco? Nem eles achariam humor nisso, pois não
existe: relembro essa cena com meu lado incendiário aflorando e... não tem
jeito, não tem graça. Até os incêndios e torra-torra de extintores de incêndios
utilizados semanalmente na extinta A Turma do Didi causavam alguma graça. Sim,
para comparar esse filme e falar que naquele seriado do Trapalhão, aquilo era
muito engraçado perto deste filme... vai imaginando como é esta obra). Em Atividade Paranormal as referências
óbvias de câmeras ligadas na madrugada para flagrar algum momento
surpreendente. E como a família Wayans não é burra (ninguém é burro ou
desprovido de inteligência e consegue fazer um filme assim tendo continuação,
inteligentes eles são em alguma área... não relacionada ao cinema,
evidentemente), sabem aquela expressão que a TV tem conseguido ser melhor que o
cinema? Alguém recentemente não usou bastante esse tipo de comentário tendo
como base Breaking Bad? Ora, ela não poderia faltar em cena, com um cientista
doidão que em determinados momentos do longa aparece com diarreia (de novo, já
esgotou a paciência essas piadas e outros envolvendo caganeira, deu, chega,
fim, acabou) ou com dezenas de mulheres em meio a um laboratório, todas elas
com peitos volumosos e seminuas, pois como diria o amigo e crítico do Ligado em
Série André Costa: nudez feminina gratuita, simples assim. E o melhor: temos
referências à Invocação do Mal,
desde o casal que tentará exorcizar a casa da família Malcolm até Annabelle
(sim, a boneca).
E falar de Annabelle é falar de outro ponto
crucial do filme: não basta não ter ritmo, elenco (que elenco?) fraco, não ter
um roteiro propriamente dito... o que seria de um filme desses sem aqueles
momentos de apelo sexual! Mas eles extrapolam todo e qualquer limite do
racional. Se no primeiro filme tínhamos transas envolvendo bichos de pelúcia,
aqui observamos a boneca Annabelle sendo objeto de desejo sexual de Malcolm.
Falando assim parece pouco (além disso, ele é um stalker de primeira, mas não entrarei em detalhes sobre esse ponto).
Não é. Observamos uma espécie de mini Kama Sutra, com Wayans ‘transando’ com
Annabelle em diversas posições, das formas mais absurdas possíveis (absurdas,
pois não são dois seres humanos, até uma pessoa sozinha pode simular seus
momentos de prazer sexual de forma, por assim dizer, solitária, mas uma pessoa
e uma boneca pequena e esta não sendo nem inflável... nada justifica) e
proporcionando os momentos mais constrangedores do cinema desde sei lá quando
(não sei se fiquei tão constrangido assim vendo As Aventuras de Agamenon, o Repórter... pois é, sinta o ‘naipe’ da
produção de “IP 2”). Mas claro, ele tenta se fazer de politicamente correto
pois mostra que está transando com camisinha... na verdade estava, pois lá
pelas tantas ele tira e volta a maltratar a boneca. E convenhamos, alguém
precisa seriamente de uma avaliação psicológica e tudo mais por ter fetiche por
uma boneca demoníaca e de bigodinho, nem Freud explicaria. Nem ele, nem
ninguém. Some-se situações em que palavras como pau, bunda, vagina e outros
rolam solta. E para fechar essa parte de alguns dos momentos ‘brilhantes’ do
filme: apenas posso acreditar que Wayans estava querendo homenagear Garganta Profunda e Para Maiores fazendo uma garota abrir a
boca e surgir a imagem de um grande pênis e sua cabeça quase saltando da moça
(tentando ser educado, mas a vontade é baixar o padrão de escrita, assim como o
filme faz o tempo todo, mas... estou me segurando): “se Hugh Jackman apareceu
com ‘bolas no queixo’ em Para Maiores,
posso fazer algo parecido”, deve ter pensado Wayans e cia.
Finalizando da mesma forma que a maioria dos
filmes do gênero (para alguém falar, logo ao término do filme: ‘vai ter a
continuação, garanto’!), Inatividade Paranormal 2 ainda perde tempo
trazendo de volta Kisha, para atormentar a vida de Malcolm. Como não existe
graça alguma nisso, fomos obrigados a ver relatos de Malcolm com sua ex, e não
sendo o bastante, temos flashbacks absolutamente desnecessários envolvendo isso. Saudades de Corra que a Polícia Vem Aí, Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu, Top Secret
e outros tantos filmes que eram sátiras bem feitas e que não precisavam apelar
para o mau-gosto e baixaria para conquistar o riso fácil e natural da plateia.
Em ‘IP 2’, o riso só acontece se for arrancado, forçado e claro, um riso falso
e que não engana ninguém, tal qual o filme... vamos aguardar para ver quem será
o objeto de desejo sexual de Marlon Wayans em um próximo filme da ‘franquia’...
saudades Leslie Nielsen, saudades.
Observação final: por uma falha na cópia, acabei vendo a versão dublada do filme (uma
série de fatores, que não vem ao caso detalhar, fizeram isso acontecer) e achei
bastante deficitária, incluindo algumas palavras e trocadilhos que não faziam
maior sentido muito provavelmente por ser uma versão dublada. Ou o filme com
som original a piada já era sem sentido e isso foi transmitido para o áudio em
português, vai saber.
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