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02/05/2013

Casa Vecchia Ristorante


Um restaurante de várias idas e sempre bem-vindas. Um restaurante que fazia tempo que não retornava e que precisava fazer matéria. Já estava caindo de maduro retornar ao Casa Vecchia Ristorante e assim o fizemos!



De cara a gente percebe aquele ambiente sem grandes sofisticações, várias mesas próximas, mas com espaço adequado entre uma e outra.


E mais para o fundo, uma grande mesa, possivelmente para uma grande reserva (ou será que sempre fica assim? Não sei, quem for lá e reparar nisso nos conte).


Indicações e outros de que o local merece ser conhecido? Sempre acho muito válido isso ter destaque nos restaurantes e outros, é reconhecimento do serviço oferecido aos seus clientes.


Mas vamos ao que interessa, a abertura dos trabalhos!

De cara já fomos provando o couvert, com pãezinhos crocantes e pasta de berinjela e outros... saboroso demais, só para variar.


Pois é, se não bastasse isso, o que é aquela manteiguinha ali na foto? Poxa, não é qualquer manteiga, é a deliciosíssima manteiga de aviação! Pessoal da Casa Vecchia, toca aqui, mandaram muito bem!


Enquanto isso, uma água mineral e uma taça de vinho tinto Arbo, uva cabernet sauvignon, da Casa Perini. Na temperatura adequada e tudo mais... até agora, excelente!


Antes de escolher a massa para o nosso prato principal, a Luciana se empolgou e precisava tirar fotos dos bonecos próximos da gente...


Gostou tanto que resolveu dar um close nesse aqui... rs


Mas viemos aqui para comer, ora bolas!

A maneira de escolher a massa é bem explicativa, outro diferencial do local e que gostamos muito. Optamos por Penne.


Pouco antes do prato principal chegar, não poderia faltar um potinho com queijo ralado, lógico que não.


E chegaram os pratos, duas porções individuais de Penne com o molho da casa. A porção era generosa, prato fundo, o molho da casa tinha nata, catupiry, molho de tomate e temperos... realmente era um espetáculo de porção (molho igualmente generoso) e sabor e com muito queijo!


Eu olhei aquela massa, ela olhou para mim... a Luciana e eu pensamos a mesma coisa e azar de quem achar errado: garçom pode levar o garfo e faca e na volta traz duas colheres, eu quero comer assim, não quero desperdiçar nada, muito menos esse molho!


Pra lá de satisfeitos? Sim, demais!  Mas SEMPRE existe o espaço no compartimento para sobremesas, esse nunca está cheio... ainda mais se tem mousse de maracujá para saborear.


O toque final, um cafezinho, para fechar essa noite perfeita.


No fim das contas, a conta ficou em pouco menos de 80 reais (sem o cupom de compra coletiva ficaria em pouco mais de 140 reais). A Casa Vecchia é um local que nunca decepciona quando quero boas massas, vinhos bem servidos e tudo mais. E precisamos urgentemente retornar, pois um dos funcionários nos garantiu: ‘temos o melhor Tortei do Brasil’, simples assim! E quem somos nós para discordar dele, não é mesmo? rs

Esses dias estava observando um famoso programa televisivo de culinária falar sobre um filme de David Lynch, História Real. Não vi esse filme, mas lembro que na época muitos fãs radicais reclamavam do filme não tanto pela qualidade, mas pelo fato de ser um filme diferente de toda a carreira do diretor. Enfim, se é bom ou ruim não sei, só sei que vendo aquela indicação lembrei-me do documentário Transcendendo Lynch e que fala um pouco da visita do diretor ao Brasil e claro, aborda um pouco sua obra. Segue abaixo a crítica:

Bizarro, insano, gênio, obscuro ou ainda como dizem as palavras iniciais do filme “profundo, misterioso, absurdo e engraçado”. O diretor David Lynch é responsável por obras que nem de longe passam da ideia de algo singelo e claro em cena. Seus filmes são enigmáticos, delirantes por vezes, nunca conseguimos um entendimento pleno de um filme seu ao fim da projeção. Normalmente temos as perguntas lançadas, nunca respostas ou quando as temos, são escassas. David Lynch também é adepto da Meditação Transcendental, algo que segundo dizem, se bem utilizado pode levar a pessoa além dos limites da consciência, atingindo um conhecimento além do imaginável. Aproveitando a passagem pelo Brasil do diretor para falar sobre o livro “Águas Profundas”, o diretor Marcos Andrade realiza seu documentário captando tal passagem, que acaba indo além de uma mera divulgação de livro.


O diretor tenta criar um clima de tensão, de dúvidas e outros, muito mais para homenagear a filmografia de Lynch do que qualquer outra coisa. Percebemos isso desde os instantes iniciais, com peixes em um aquário circulando de um canto ao outro. Aos poucos eles saem de cena para focar apenas no aquário, e posteriormente no borbulhar, voltam os peixes. Tudo para não deixar passar em branco umas das principais metáforas do livro, que é a da tal expressão “Catching the big fish” (ou em uma livre tradução: pegando um peixe grande). Aos poucos a imagem vai escurecendo e sumindo e só volta a surgir quando lentamente se dirige para um cenário, para um palco onde ao fundo observamos uma cortina vermelha e uma voz. Assim começamos a ver David Lynch falando sobre a meditação transcendental. Logo após, observamos Bobby Roth, presidente da David Lynch Fundation e que acompanhou o diretor na palestra (junto com a presença do cantor Donovan, vice-presidente da Fundação, tendo pequena participação, mas no mínimo curiosa e engraçada). Conhecemos pelo que nos é apresentado que o diretor pratica a meditação desde 1973, ao menos duas vezes ao dia. Isso transformou seu cotidiano de forma drástica, visto que estava sempre irritado, estressado e com problemas de depressão. Recebemos ainda a informação de que a meditação transcendental lhe traz a possibilidade de mergulhar em diversos níveis da mente e quanto mais profundo, maior é a consciência que você passará a ter de seus atos, de seu pensar e agir. Até chegar o momento em que poderá atingir o patamar de infinitabilidade extrema nos diversos campos, tais como amor, criatividade, e que tudo isso nos levará a tais possibilidades infinitas, onde saímos do campo da relatividade onde vivemos e entramos no absoluto não relativo, a fonte do pensamento mais próximo do iluminado, do ilimitado e do eterno. Delírio tudo isso, entendeu plenamente alguma coisa? Talvez estudando a meditação transcendental seja mais fácil compreender tais conceitos, para mim foi ou é tão complicado quanto para vocês.

Com trechos das palestras que foram realizadas em Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, o 1º ato tem como principal aspecto a divulgação do livro e o estilo do diretor. Sereno, calmo, fumando seu cigarro American Split, tenta responder a todos os jornalistas e plateia. E nisso reside outro ponto ao mesmo tempo positivo e negativo do longa. É empolgante observar todos os locais por onde o diretor passou: milhares de fãs em calçadas, lotando livrarias, auditórios, ora para questionar sobre a meditação, ora para falar de suas obras. Quem conhece um pouco que seja da filmografia de Lynch sabe que sua obra transita livremente entre o visual marcante, histórias aparentemente desconexas, sinais, símbolos, fatos que são jogados na tela sem aparentemente ter um motivo, uma razão para aquilo. Nisso, Marcos Andrade falha, pois em diversos momentos em que Lynch fala, logo em seguida nos é mostrada uma imagem, uma cena em formato de auto-explicação. Quando ele aparece falando sobre o reino dos céus, a câmera automaticamente foca o universo ou ainda, quando comenta sobre seu fascínio pela obra Metamorfose de Franz Kafka, nos deparamos com um close muito fechado em uma barata que transita livremente em seu ambiente... O instigante de assistir aos filmes do diretor é justamente cada qual tirar suas próprias conclusões e não ter explicações logo após uma cena. A exceção se dá quando observamos o diretor falar sobre a percepção que cada um tem seus filmes e como ele pensa, que cada cena poderia ser realizada de diversas formas, mas sendo a mesma história. Nisso, observamos uma breve sequência envolvendo duas mulheres e Lynch, sobre o suposto desaparecimento de uma pessoa. A beleza da cena é justamente observarmos que a história nos é mostrada em preto e branco e posteriormente com uma fotografia saturada, com ângulos diferentes, basicamente a mesma história, mas com outro ponto de vista ou abordagem na maneira de como ela poderá ser filmada.


Tendo ênfase em seu 2º ato a relação dos fãs com o cineasta, vemos belas sequências como o esforço dos fãs para buscar um autógrafo que seja. Não interessa como, se em um livro, em um DVD, calcinha, braço, passaporte, todos querem ter esse registro. E por mais piegas que possa parecer, a seleção de imagens unida a uma trilha sonora que remete por vezes a trechos de ópera e a outros de ballet é realmente empolgante, por que não dizer emocionante. É claro que alguns fãs exageram como pedir para explicar sobre aspectos do livro, desenhar além do autógrafo (divago, mas acredito ter visto Lynch desenhando um... hipopótamo? Qualquer semelhança com José e Pilar não me parece ser mera coincidência), entre outras situações atípicas.

No campo dos questionamentos sobre seus filmes, as perguntas são obviamente as mais variadas. Um espectador questiona o processo criativo do diretor, questionando ainda se o mesmo “fuma antes de filmar, se toma chá de cogumelo”, etc. Seu processo criativo basicamente é de ideias que encontra no dia-a-dia, no cotidiano, no caminhar pela rua, nos sons que escuta. Tudo pode se transformar em uma ideia para um curta, uma propaganda, e mesmo um filme. Questionado sobre uma de suas melhores obras feita nos anos 80, o diretor comenta que inicialmente achou a música Blue Velvet chata, fraca, que não correspondia a seus propósitos... Pouco tempo depois (possivelmente utilizando os benefícios de sua meditação) pensou em um terreno vazio, um campo aberto e uma orelha decepada neste local, e então refletiu sobre a canção e pensou que ela funcionaria bem em seu filme. E assim surgiu a ideia inicial de Veludo Azul. Respondeu ainda sobre o sofrimento de seus personagens, que os mesmos refletem algo do mundo atual, mas deixa claro: nenhum ator precisa ir para o set de filmagens com a noção ou com o pressuposto de que irá sofrer. Devem ir para lá alegres, e não com o intuito da dor, do sofrimento (estaria Lynch lançando alguma indireta para outros diretores e estilos conturbados na direção de atores? Cada um tire sua conclusão). De resto, são no mínimo curiosos alguns questionamentos dos fãs ou dos próprios jornalistas sobre determinado aspecto de tal filme, se é uma metáfora da vida, se existem diretores ou atores que ele venera ou cultua atualmente, se a caixa azul de Mulholland Drive é uma espécie de caixa de Pandora no filme... Suas respostas são sempre as mais variadas, empolgantes e amplas, mas para esses questionamentos a resposta é sempre um lacônico NÃO!


Diante de tudo isso, é inexplicável o 3º ato do filme. Com a nítida impressão de que não tinha mais ideia de como concluir o longa, o diretor Marcos Andrade começa a repetir cenas de fãs, mas as declarações agora soam artificiais, tais como atores e atrizes desempregados implorando por um emprego, uma chance de trabalhar com o diretor (com exceção de uma senhora que de aspecto tão diferenciado e assustador parecia ter saído justamente de algum dos filmes do diretor). Ainda é vergonhoso observar que alguns recursos em cena parecem estar ali apenas com o propósito de mostrar algo diferente no uso da câmera, mas sem nenhum propósito. Como observamos quando o diretor está indo em direção ao aeroporto o seu caminhar, em torno de 40 segundos, tudo isso é mostrado de trás para frente, sem que haja um mínimo propósito para a cena. Aliado a isso, declarações de Bobby Roth sobre a situação social do Brasil soam tão desnecessárias que poderiam ter ficado de fora na edição final do documentário. Como se nada mais pudesse piorar, observamos alguém da produção perguntar: vocês têm muitos fãs no Brasil, não? Imediatamente, Bobby e Lynch dão uma breve risada e olham para o chão, como se constrangidos da obviedade da pergunta não merecedora de resposta.

Mesmo com alguns tropeços, Transcendendo Lynch acaba assim por ser um documentário que divulga a obra de David Lynch sobre a meditação e claro, aproveita alguns momentos para sabermos um pouco mais sobre aspectos de sua filmografia. E não deixa de ser, no mínimo irônico e digno das mais variadas interpretações, quando Lynch é questionado sobre sua forma de filmar e seus filmes. Sua resposta: “Eu não leio muito, praticamente não leio. Eu não sou um conhecedor de cinema, eu não vejo filmes. Eu tenho apenas milhares de ideias”. E começa a discorrer novamente sobre a meditação, o alcançar da consciência plena, etc. David Lynch: misterioso, insano, obscuro, sutil, engraçado... E marqueteiro? Estaria Lynch falando a pura verdade ou apenas fazendo mais uma divulgação de seu livro e da meditação transcendental, principal foco que o trouxe para o Brasil em 2008? Como diz o diretor em determinado momento do filme: “A interpretação de cada um é válida, e ele não aceita quando dizem que as pessoas não entendem seus filmes. Para ele cada pessoa tem seu entendimento, sua compreensão e se você entendeu no fim das contas, é o que basta.” Se iremos chegar a alguma conclusão sobre isso? Não faço a mínima ideia. Contanto que seus filmes continuem com a mesma linha tênue entre realidade e ilusão, entre o visual arrebatador e histórias alucinantes, se sua direção e seu estilo permanecem o mesmo... É isso o que importa.

Obs.: Esta crítica foi originalmente publicada por mim no Fila K, em 19/06/2011.


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