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15/07/2013

Martha Marcy May Marlene


Não preciso entender um filme para gostar dele. Não precisa ser mastigado para ganhar minha atenção, minha admiração. Além disso, gosto de obras que quebrem a ideia de narrativa linear. Dito isso, depois de algum tempo já com o filme para assistir, finalmente observei Martha Marcy May Marlene.

De cara ouvimos acordes que remetem à angústia, medo, aflição. Posteriormente, algumas imagens tentando nos mostrar uma cidade do interior, ou até uma fazenda, onde tudo – ou quase tudo – é pacato: mulheres conversando, uma criança caminhando de pés descalços, um homem pregando o telhado.  Mas o ar interiorano e simplório para por ae. Logo a seguir já observamos mulheres atrás da porta, em silêncio enquanto homens fazem suas refeições e só após, o sexo feminino tem vez naquele ambiente. Nisso conhecemos Martha (ou Marcy May... ou ainda, Marlene?), que de cara foge da fazenda e reencontra uma familiar. Mas a imagem volta para a fazenda, cheia de repressões, liderança plenamente masculina, com estupros sendo utilizados de forma para purificar a alma das mulheres que passaram por aquele local. Mas afinal de contas, o que é verdade e o que é ficção, o que é passado e o que é presente?


Dirigido pelo estreante Sean Durkin, Martha Marcy May Marlene é um filme perturbador, difícil de ser assimilado, mesmo com bastante atenção, em uma primeira tentativa. Preciso olhar mais uma vez. A trilha sonora de Daniel Bensi e Saunder Jurriaans colabora para esse resultado, com sons que tentam nos passar um pouco da vida atordoada de Martha. Falando em Martha, Elizabeth Olsen (não confundir com Kate e Mary Olsen, as gêmeas que fizeram trocentos filmes que passam na sessão da tarde) entrega uma atuação precisa, cheia de nuances, de uma pessoa sobrecarregada por suas experiências de vida, seus dramas. Sua vida passa a ser um constante quebra-cabeça, onde em determinado momento ela mesmo admite que tem dificuldades em assimilar, em perceber o que é real e o que é sonho. Para isso, a montagem preciosa de Zachary Stuart-Pontier contribui imensamente para entrarmos no mundo de Martha: aqui temos uma narrativa recheada de flashbacks, mas diferente do habitual, são flashes discretos. Às vezes você os nota por um olhar diferente entre um corte e outra cena, em determinado momento a roupa é clara, no segundo a roupa é escura. Repare ainda em toda a tela, não apenas nos personagens, mas também em elementos de cena que aparecem de forma aparentemente desfocada... não se engane, tudo em um porque de estar em cena.

Terminando de uma forma que gera mais de uma interpretação, Martha Marcy May Marlene lembra, cada qual à sua maneira é bem verdade, Amnésia e sua edição de imagens fragmentadas. Seja o homem sem memória curta interpretada por Guy Pearce, ou então por Olsen, uma garota perturbada por abusos e outros de uma espécie de seita de fanáticos, Martha Marcy May Marlene não é um filme apenas para se pensar durante a projeção. É para se refletir, analisar, discutir após o término da obra, se possível revê-la mais de uma vez. Como é bom encontrar filmes assim, cada vez mais raros no cotidiano cinematográfico americano!


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