Em 2015 li 33 livros, neste ano consegui superar esse
número, tendo lido 40. Foram 12.283 páginas ao longo do ano, e listo abaixo um
pouco de cada uma dessas obras, em ordem de leitura, não de preferência:
1. A Garota no Trem, de Paula Hawkins
O livro nos conta a história de Rachel, uma mulher com
problemas de alcoolismo e instabilidade emocional, decorrentes de um divórcio
mal resolvido com o ex-marido Tom, agora casado com Anna. Rachel anda
diariamente de trem, observando a vida das pessoas ao longo dos trilhos, e se
encanta especificamente por um casal que ela idolatra como o “amor perfeito”,
aquele “que todos queremos ter um dia”.
“Minha
mãe dizia que eu tinha uma imaginação fértil; Tom dizia a mesma coisa. É
inevitável: não posso ver uma dessas peças descartadas, seja uma camisa suja ou
um pé de sapato, que já começo a pensar no outro sapato e nos pés que os calçavam.”
A vida já problemática de Rachel fica ainda mais
complicada quando ela acaba se envolvendo na trama de um possível assassinato,
e tudo vai contra ela pelo fato das amnésias resultantes das intensas
bebedeiras.
“Tenho
apagões e não consigo me lembrar onde estive ou o que andei fazendo. Às vezes
fico me perguntando se fiz ou falei coisas terríveis, e não consigo lembrar”.
O livro como um todo é muito bem escrito, prende o
leitor, e por não ter uma narrativa linear, muitas vezes deixa o leitor em
suspenso por algumas páginas. Com uma resolução bem plausível, e significativa
mudança no rumo da personagem principal, temos uma história interessante e que
nos faz ao mesmo tempo ter raiva e simpatia pela inconstante Rachel.
2. Sr. Holmes, de Mitch Cullin
Este é um livro curioso, que nos apresenta Sherlock
Holmes idoso, com 93 anos e já com problemas de memória em função da idade. O
maior problema é sua memória mais recente, que se perde com grande facilidade.
Holmes vive recluso em sua fazenda, tendo como companhias sua governanta e o
filho jovem dela. E é claro, sua maior paixão: as abelhas!
“Antes,
eu teria observado tudo ao meu redor com perfeição de detalhes: a arquitetura
do prédio da estação, os rostos das pessoas por quem passava, os vendedores
comercializando suas mercadorias; mas isso raramente acontece hoje em dia. Eu
não me lembro do edifício da estação e não posso lhe dizer se havia vendedores
ou pessoas por perto. Tudo o que me lembro é de um mendigo moreno e desdentado
dançando diante de mim, com um braço estendido para receber alguns tostões. O
que me importa agora é que tenho essa deliciosa imagem dele; onde ocorreu o
evento não importa.”
A história se inicia com o retorno de Holmes do Japão,
onde foi em busca de informações sobre a geleia real e uma planta, que teria o
poder de aumentar a longevidade, e o vigor físico e mental dos que a consomem.
Com uma narrativa não linear, acompanhamos o dia-a-dia de Holmes hoje, bem como
suas aventuras e casos que resolveu no passado.
Uma leitura agradável, interessante e cheia de
aventura, achei fascinante.
3. Caixa de Pássaros, de Josh Malerman
Relatos de casos estranhos estão sendo transmitidos
pela TV, jornais e rádios. A pessoa “enxerga algo”, ataca e mata alguém e se
mata depois. Se estiver sozinha, apenas se mata. Essa é a ideia inicial do
livro.
“Ela
ergue uma das mãos e leva os dedos ao tecido negro. Por um instante, tanto ela
quanto a criatura seguram a mesma venda.”
Achei a narrativa bem simples, com capítulos
intercalando passado e presente, deixando um pouco a desejar. Não há como negar
que existem passagens tensas, mas acredito que mais pelo medo de que o personagem
não sabe o que o espera, do que pelo que vamos ler ali adiante. O “sentir medo
por não saber o que está acontecendo por estar de olhos vendados e/ou
fechados”.
“Quando
eram bebês ela os treinou para que acordassem de olhos fechados. Parada, sobre
as camas cobertas por arame, com um mata-moscas na mão, ela esperava. Quando
acordavam e abriam os olhos, ela batia com força no braço deles. Eles choravam.
Malorie estendia a mão e fechava os olhos dos bebês com os dedos. Se
mantivessem os olhos fechados, ela levantava a camisa e os amamentava. Recompensa.”
4. Gone, Baby, Gone, de Dennis Lehane
O livro é muito bem escrito, segura o leitor a cada página.
Amanda McCready, uma menininha de 4 anos, filha de uma mãe viciada e
negligente, desaparece sem deixar rastros. Helene, a mãe de Amanda, é uma
mulher intragável. Lionel e Beatrice – irmão e cunhada de Helene –,
inconformados com o desaparecimento da sobrinha e o desleixo da mãe, procuram
pelos detetives Patrick Kenzie e Angela Gennari, famosos por resolver diversos
casos.
“Mas
em meio a todo esse barulho, nada é mais ensurdecedor que o silêncio da criança
desaparecida.”
O que de início parecia complicado, só se intensifica
ao longo da narrativa, e muito do que não se espera acaba por acontecer.
O filme Medo da Verdade, estreia de Ben Affleck como
diretor, é baseado nesse excelente livro de Dennis Lehane.
5. Estrada Escura, de Dennis Lehane
Doze anos depois que Patrick e Angie localizaram a
pequena Amanda em Gone, Baby, Gone se inicia a narrativa de Estrada Escura.
Patrick não é mais um detetive da ativa, e sim um
homem na faixa dos 40 anos e bem marcado física e emocionalmente pela vida que
levava antes da aposentadoria. Mas ainda assim não se deixe enganar em pensar
que ele perdeu o ritmo.
“Doze
anos antes, eu tinha agido errado. Tinha certeza disso todos os dias que haviam
se passado desde então, mais ou menos uns quatro mil e quatrocentos.”
Depois de 12 anos ele é chamado novamente pela mesma
Beatrice, para encontrar a mesma Amanda, hoje com 16 anos e novamente
desaparecida.
A narrativa é bem fluida, uma leitura interessante.
Patrick e Angie novamente trabalhando juntos em um caso, mas não um caso
qualquer, dessa vez eles se envolvem com a máfia Russa, e os perigos são
infinitamente maiores do que quando Amanda tinha apenas 4 anos.
Um belo “encerramento de carreira” para dois
excelentes detetives como Patrick e Angie.
6. O Iluminado, de Stephen King
Este foi o segundo livro que li do autor, o primeiro
foi Misery. Assisti a O Iluminado muito tempo atrás, então muito me
escapa com relação ao enredo, mas como dizem as críticas, livro e filme são bem
diferentes.
Jack Torrence é um alcoolista em recuperação (ou pelo
menos se espera que seja) com muitos problemas pessoais, e o emprego salvador
surge como zelador do Hotel Overlook quando acaba a temporada.
Danny, seu filho, é um garoto iluminado e sensitivo, e
o Hotel é um local antigo, repleto de fantasmas e amaldiçoado pelas tragédias
que ali ocorreram. Quando Jack, Danny e Wendy se mudam para o Hotel, coisas
realmente estranhas começam a acontecer em torno deles.
“Era
o lugar que vira no meio da tempestade de neve, o lugar escuro do estrondo,
onde uma criatura incrivelmente familiar procurava-o pelos corredores cobertos
de mato. O lugar sobre o qual Tony o havia alertado. Era aqui. Fosse o que
fosse, REDRUM seria aqui.”
Levando o leitor literalmente a não desgrudar de suas
páginas em grande parte da narrativa, o livro consegue transmitir um terror
palpável. Conseguimos sentir o pavor de Danny a cada corredor.
O desfecho (bem melhor no livro) não deixa dúvidas
sobre a maldição do local.
7. Doutor Sono, de Stephen King
Aqui temos Danny Torrence, o garotinho de O Iluminado,
hoje um homem de 30 anos, alcoolista como o pai, viciado em drogas e com sérios
problemas pessoais.
Ao longo da narrativa vamos acompanhando os altos e
baixos do personagem, até ele encontrar pessoas que se tornam suas amigas e de
certo modo protetoras. É quando ele toma conhecimento de Abra, uma menina
“muito” iluminada, que se torna alvo de pessoas más, que se aproveitam da
essência de crianças iluminadas como ela.
“Estou
bem – Disse. – De Verdade. Só estou contente de não estar mais sozinha com isso
dentro da minha cabeça.”
“A
mente era um quadro-negro. E a bebida, o apagador.”
Paralelamente a isso vemos Dan como Doutor Sono, uma
pessoa que auxilia as pessoas idosas e doentes de um asilo na hora de sua
“passagem”.
Com trechos de tirar o fôlego, o livro, assim como seu
protagonista, tem seus altos e baixos, mas mesmo assim sendo uma excelente
leitura, visto como um todo.
8. O Regresso, de Michael Punke
Uma leitura fluida, apesar dos flashbacks, é o que nos
leva com rapidez ao longo do livro.
Hugh Gloss faz parte de uma Companhia de Peles, sua
expedição de caçadores é atacada por índios, e nas matas à beira do rio ele é seriamente
ferido por uma enorme ursa-cinzenta.
Depois de roubado por seus companheiros e abandonado
na mata à beira da morte, o livro nos leva na jornada de vingança de Hugh, que
luta para sobreviver.
“O
homem ferido encarou a abertura na mata por onde os dois tinham desaparecido. A
raiva que lhe acometeu era completa, consumindo-o como o fogo ao envolver as
agulhas de um pinheiro. Não queria mais nada no mundo a não ser pôr as mãos no
pescoço daqueles dois e sufocá-los até a morte.”
Uma história de superação e dor, um personagem
obstinado, que não vai parar enquanto não alcançar seu objetivo: vingança.
9. Lugares Escuros, de Gillian Flynn
Libby Day é uma mulher estranha, perturbada,
cleptomaníaca e egocêntrica. A única sobrevivente do brutal assassinato de
quase toda sua família – as duas irmãs e a mãe – quando tinha apenas 7 anos.
Seu irmão mais velho, Ben Day, é o principal suspeito dos assassinatos e foi
preso na época por conta de seu depoimento, mesmo sendo ela uma criança.
“Eu
não era uma criança adorável e me tornei uma adulta extremamente detestável. Se
alguém fizesse um retrato da minha alma, veria um amontoado de rabiscos com presas.”
Já sem dinheiro, visto que nunca trabalhou e viveu até
o momento do fundo que recebia pela publicidade dos assassinatos, ela resolve
aceitar o convite do líder de um grupo de “adoradores de casos de
assassinatos”, para contar sua história em troca de dinheiro. Pressionada por
alguns membros do grupo, ela começa a se questionar se seu irmão é realmente o
culpado, e isso vai levá-la a uma jornada que acaba por se mostrar extremamente
perigosa.
Um livro mediano, que deu origem a um filme bem fraco.
10. A Noiva Fantasma, de Yangsze Choo
Li Lan é uma jovem de família tradicional, porém
falida. A resolução dos problemas financeiros de seu pai está na proposta de
casamento que Li Lan recebe, o que seria uma bênção, exceto pelo único detalhe
preocupante: Lim Tian Ching, seu noivo, está morto.
“Certa
noite meu pai perguntou se eu gostaria de me tornar uma noiva fantasma.”
Uma jornada repleta de aventuras, sobre o sobrenatural
e o amor. Ela percorre caminhos que jovem nenhuma deveria precisar percorrer,
mas isso a amadurece e a ajuda a ter o discernimento necessário para escolher
seu destino.
“Na
densa luz do crepúsculo, vi uma estranha procissão de débeis luzes verdes. Elas
passavam direto pelo vigia do portão, sinistras, embora ele não parecesse
percebê-las. Foi quando eu soube que elas eram luzes espirituais.”
Eu tinha uma ideia completamente diferente sobre como
seria o livro, e não imaginava que se tratasse de um assunto que é real ainda
nos dias de hoje, uma tradição milenar da extrema China Continental, pelo que
pude pesquisar, o Casamento Fantasma. Pode-se casar dois mortos, que se amavam
em vida, para que passem a eternidade juntos, ou ainda casar uma pessoa viva
com um morto, a fim de aplacar o espírito do falecido. Em ambos os casos está
envolvido um dote para a família da noiva e existe uma cerimônia apropriada e
queima de oferendas aos noivos, coisas que irão utilizar na sua “vida” juntos.
Fui surpreendida positivamente com o rumo que toma a
história, enveredando pelo mundo espiritual, com um toque de romance e um final
interessante.
11. Onde Cantam os Pássaros, de Evie Wyld
É um livro diferente, mesmo confuso em muitos
momentos. Finalizei a leitura em dois dias e confesso que ainda não entendi
aquele final.
Jake White é uma fazendeira que mora em uma pacata
ilha inglesa sem nome definido, e cria ovelhas. Ela vive sozinha e tem como
única companhia seu cachorro chamado Cão.
A história já começa com o aparecimento de uma ovelha
destroçada, algo está de tempo em tempo atacando os bichos da fazenda, e parece
não se ter como descobrir o que faz isso. Uma fera que espreita na floresta? Um
fantasma? Alguma outra coisa inexplicável?
Jake tem um passado sombrio que nunca a abandona, e
que a todo o momento vem à tona: seja pelo medo que ela sente, ou pelas
cicatrizes em suas costas.
“Eu
só consigo lidar com isso porque não há nada aqui, ainda, que me conecte com
aquele tempo, com aquelas pessoas, a não ser as marcas em minhas costas, que já
estão cicatrizadas o suficiente para parecerem fazer parte de um passado diferente.”
A edição é muito bonita, mas não se deixe enganar pelo
alegre tom de rosa da capa, imaginando que irá encontrar uma história linda e
feliz. É uma história que intercala momentos de drama psicológico com outros de
um terror psicológico extremamente presente.
Uma curiosidade: Os capítulos intercalam passado e
presente, os pares falam do passado, os ímpares do presente de forma linear.
12. As Espiãs do Dia D, de Ken Follett
Primeiro livro que leio do autor, e foi uma grata
surpresa a leitura deste livro, que é inspirado em uma história real.
Felicity Clairet é uma oficial inglesa que durante a
Segunda Guerra fez parte das forças de Aliados que almejavam inutilizar a
principal central telefônica alemã, comprometendo assim as comunicações e
consequentemente o avanço das tropas de Hitler, no intento da libertação da
Europa.
A missão dos aliados de comprometer essa central
telefônica é frustrada pelo contingente alemão, o grupo é dizimado, e Michel,
marido de Felicity é baleado.
Desacreditada por seus superiores ela recebe uma
última chance de mostrar seu trabalho, e em nove dias ela precisa montar um
grupo só de mulheres que irão arriscar suas vidas se passando por faxineiras,
infiltrando-se no palácio onde fica a central para explodi-la.
“—
Vou ser muito franca – começou, então olhou de relance para os coelhos
ensanguentados, voltou os olhos para o rostinho bonito de Diana e só então
emendou: – Você é uma matadora. É disso que preciso agora.”
Um excelente livro, uma leitura contagiante.
13. Objetos Cortantes, de Gillian Flynn
Terceiro livro que leio da autora, já li Garota Exemplar
e Lugares Escuros. A narrativa segue os mesmos moldes dos outros dois: a
personagem passa por um trauma ou tem um problema de comportamento e coisas
(algumas realmente absurdas) acontecem a seguir.
Aqui temos Camille Preaker, repórter de um jornal pouco
conceituado em Chicago, e seu novo trabalho é voltar à sua cidade natal e
cobrir um assassinato e o desaparecimento de uma menina. Para isso ela vai
precisar enfrentar os fantasmas de seu passado, uma irmã problemática e uma mãe
neurótica.
“Eu
me corto, sabe? E pico, e fatio, e gravo, e furo. Sou um caso muito especial.
Eu tenho determinação.”
A narrativa vai aos poucos nos apresentando Camille e
o que conhecemos é uma mulher com marcas permanentes, tanto no corpo, quanto na
personalidade.
Assim como nos outros dois livros da autora, mais uma
vez temos uma reviravolta perto do final, uma “superação” ou revanche da
protagonista, o que me leva a crer que esse seja o modus operandi de Gillian
Flynn.
14. Prisioneiros do Inverno, de Jennifer McMahon
Tinha muita curiosidade por esse livro, a sinopse era
interessante e prometia uma história envolvente.
Uma cidade considerada mal-assombrada, cheia de
mistérios, e uma lenda envolvendo o espírito de uma jovem assassinada, que
dizem ainda vagar pela cidade. O livro fala de espíritos, e mortos que voltam à
vida, os dormentes. Mas não vou me estender muito nesse caminho.
A narrativa se mostra
engenhosa, mas os desfechos e até alguns personagens são pouco convincentes.
“Às
vezes, coisas terríveis acontecem e não há nada que possamos fazer para
impedi-las.”
No fim, uma leitura rápida e não muito empolgante.
15. A Colina Escarlate, texto de Nancy Holder
Uma história de fantasia, magia, romance, traição e
submissão. E ainda a implacável ingenuidade da protagonista.
“A
coisa a observava.”
Edith Cushing é uma menina rica, ingênua e protegida
pelo pai, que se apaixona por um estranho e entrega literalmente sua vida a
ele, correndo então todos os riscos possíveis desse envolvimento.
“Então
algo tomou a mão dela e a puxou para o chão. Com força e violência
inacreditáveis. O impacto a fez perder completamente o fôlego, pontinhos
amarelos explodiram em sua visão.”
Ainda não assisti ao filme, mas achei o livro bobo e
previsível.
16. O Circo Mecânico Tresaulti, de Genevieve Valentine
Um dos melhores livros que li nesse ano. Uma história
que mistura magia, medo, superação e lealdade. Os personagens do Circo Mecânico
são únicos, singulares, e todos eles são, de uma forma ou de outra, devotados a
Boss, a “dona do circo”.
“Isto
é o que acontece quando uma acrobata se solta do trapézio em movimento: o
pássaro ou o chão.”
Uma leitura difícil, mas não no sentido de fluência,
mas sim pela história em si e pelo destino de cada personagem.
“Os
braços da mulher ainda estão bem abertos, você percebe que ela não parou de
falar, que sua voz sozinha mudou o ar, e quando ela continua, ‘Bem-vindos ao
Circo Mecânico Tresaulti!’, você aplaude como se sua vida dependesse disso, sem
saber por quê.”
Um livro fantástico!
17. A Sangue Frio, de Truman Capote
Desde que assisti ao filme nos cinemas, em sua
primeira semana de exibição, eu tinha uma vontade imensa de ler o livro. Fui
lê-lo com altas expectativas e não me decepcionei.
“O
cordão em torno de seus pulsos corria até os tornozelos, que também estavam
amarrados, e depois ia até o pé da cama, onde foi preso – um trabalho muito
complicado, e feito com capricho. E pensar no tempo que deve ter levado para
amarrá-la assim!”
O livro é excelente, e muito bem escrito. Capote
consegue ser debochado em momentos tensos, sem perder a linha, ser sensível e
cruel, e deixar o leitor grudado nas páginas.
“Depois
de tomar um copo de leite e pôr um chapéu forrado de feltro, o Sr. Clutter saiu
com uma maçã na mão para examinar a manhã. O tempo estava ideal para o consumo
de maçãs ao ar livre, a luz muito branca do sol descia do céu muito claro, e um
vento leste fazia farfalhar sem desprender dos galhos, as últimas folhas dos
olmos chineses.”
18. Sentimentos à Flor da Pele, de vários escritores
A proposta de 10 podcasters literários escreverem um
conto, tendo como tema sentimentos como ódio, amor, medo, entre outros,
resultou nesse belo livro!
“Enquanto
tomava café, decidi que iria mata-lo. Aparentemente não havia nenhuma razão
para tanto, uma vez que os anos já tinham passado. No entanto, ao colocar a
xícara quente em meus lábios decidi que iria mata-lo.”
O livro foi lançado com financiamento coletivo, obtido
através de uma vaquinha virtual, onde diversos leitores e amigos dos escritores
colaboraram para que o projeto acontecesse.
“Eu
sou quem resfria seu sangue. Sou o arrepio da sua pele e o acelerar do seu
coração. Sou a vertigem e a falta de ar. Sou tudo o que você teme.”
Os contos em sua maioria são excelentes, mas alguns
deles se destacaram pra mim. Não pretendo citá-los para não correr o risco de
induzir um novo leitor a determinada preferência. Acredito que cada um terá sua
percepção de cada história, e claro, gostos são variados.
19. O Príncipe Lestat, de Anne Rice
Mais um excelente livro da autora. Não li todas as
Crônicas Vampirescas, apenas algumas. Quando parti para esta leitura achei que
ficaria boiando em alguns momentos, o que de fato aconteceu. Imagino que pelo
menos as primeiras Crônicas, até O Vampiro Armand, seja interessante ler antes
desse. Tem bastante referências à Memnoch e A História do Ladrão de Corpos.
“Seth
era um matador implacável. Os antigos quase sempre o são. E o observei drenar
uma jovem vítima do sexo masculino, observei o corpo murchar enquanto Seth
consumia cada milímetro de fluído vital. Ele mantinha a cabeça do jovem morto
de encontro a seu peito. Eu sabia que ele queria esmagar o crânio e em seguida
o fez, rasgando o invólucro cabeludo ao redor do osso e sugando o sangue do
cérebro. Então ele dispôs o cadáver de uma maneira quase amorosa sobre pilhas
de refugos no beco, cruzando os braços da vítima, fechando os olhos dela. Ele
inclusive recolocou o crânio em sua forma original e alisou o escalpo rasgado
sobre ele, afastando-se como se fosse um sacerdote inspecionando um sacrifício,
murmurando algo baixinho.”
Anne Rice não se intimida em acabar com os antigos, e
muito menos elevar Lestat a muito mais do que se poderia imaginar. Era sabido
que ele teria um destino brilhante entre os vampiros, bastava acompanhar as Crônicas.
E aqui vemos finalmente Lestat ascender ao título que lhe era devido desde o
início.
20. Donnie Darko, de Richard Kelly
Então, esse livro é doido. Como o filme. E claro, não
poderia ser diferente se esse é o roteiro original das filmagens.
“Donnie
É.
Me diz porque você está usando essa fantasia estúpida de coelhinho.
Frank
Por
que você está usando essa fantasia estúpida de homem?”
Não tenho muito o que falar da história, só lendo para
entender. Ou melhor, nem assim.
21. A Festa de Babette, de Karen Blixen
Um livro interessante, sensível, com uma narrativa bem
construída e uma mensagem que pode nos fazer pensar sobre várias coisas, em
como é a vida, e como uma pessoa pode ser feliz ao correr atrás de um sonho e alcançá-lo,
mesmo que isso traga consequências.
“Sobre
o que aconteceu mais tarde nessa noite, nada pode ser afirmado. Nenhum dos
convidados dali em diante guardou qualquer lembrança clara disso. Só sabiam que
os aposentos da casa se encheram com uma luz celestial, como se inúmeros halos
houvessem se misturado numa única e gloriosa radiância.”
22. O Menino que Desenhava Monstros, de Keith Donohue
Uma história de crianças e monstros. O livro chega a
ser bastante tenso em vários momentos.
Jack Peter é uma criança com Síndrome de Asperger, ele
não sai de casa e não permite contato físico. Nem da família. É uma criança com
um dom: ele desenha coisas que ganham vida posteriormente.
“É
claro que eu não o odeio. Ele é o meu filho. Mas odeio a maneira como nossas
vidas mudaram.”
Apesar de ser uma história com monstros, consegue ser
sensível e por vezes bela. Por vezes também cruel. Prende o leitor.
“A
massa branca se esticara transformando-se em uma criatura ereta, a pele pálida
de um sepulcral brilho azulado à luz da lua, para depois dar-lhes as costas
curvando os ombros e se afastar, arrastando os pés.”
Mas nada, nada pode nos preparar para o seu desfecho.
Uma história bela, sensível e assustadora.
23. Os Condenados, de Andrew Pyper
O livro conta a história dos gêmeos, Danny Orchard e Ashleigh
Orchard.
Danny, mais quieto, na dele, já teve experiências de
quase morte e voltou para contar como foi. Escreveu um livro sobre isso. Ash
sempre foi extremamente estranha, desde pequena, seus pais sentiam medo dela.
Ela era perigosa.
“Ao
olhar para nossa família – para ela – você certamente pensava que éramos
sortudos. Porém, dentro das paredes na nossa casa na Farnum Avenue havia um
segredo. Meu pai, minha mãe e eu sabíamos que um monstro vivia conosco, por
mais fotogênico, por mais inteligente que fosse. Como ela era apenas uma garota,
como era alguém da família, como tínhamos medo dela, não havia o que pudéssemos
fazer.”
Eles morreram em seu aniversário de 16 anos, num
incêndio. Danny voltou à vida no hospital enquanto Ash permaneceu morta. Acontece
que a partir daí a garota começa a fazer de tudo para infernizar a vida do
irmão, “porque ele sobreviveu, e ela não”. Tem alguma coisa na história sobre
gêmeos serem inseparáveis, uma força maior, etc.
O livro é mediano, uma leitura relativamente rápida, e
nos mostra a trajetória de Danny tentando se livrar do espírito/fantasma da
irmã gêmea obsessiva.
24. Exorcismo, de Thomas B. Allen
O livro trata de um caso de exorcismo realizado por
padres jesuítas em 1949, e documentado em um diário, documento esse que tinha
como propósito auxiliar em exorcismos futuros.
Tanto livro quanto filme O Exorcista são inspirados nesse
caso de exorcismo, porém o possuído é uma menina, e os fatos não são exatamente
como ocorreram.
“Sons
de arranhões vinham de todos os cantos, mas pareciam se originar de dentro do
colchão. Enquanto os adultos observavam, o colchão pulou para cima e para baixo
com violência.”
Já este livro é baseado nos relatos dos padres que
realizaram o exorcismo, inclusive com transcrições das páginas do diário, tendo
o autor conseguido uma cópia do documento com um dos padres envolvidos. O livro
conta ainda com uma extensa relação de fontes e bibliografia sobre a história,
bem como notas interessantes sobre cada capítulo do livro.
Uma leitura tensa, assustadora, e os relatos são
realmente incríveis.
25. Golem e o Gênio – Uma Fábula Eterna de Helene Wecker
Um livro
interessantíssimo, uma fábula que envolve um Djim, Ahmad, que sai de uma
garrafa sob os cuidados de Arbeely, um latoeiro que tinha uma oficina em Nova
York, e Chava, uma Golem, que depois da morte de seu Mestre, ficou perdida e
desamparada – se é que isso é possível em uma Golem – e foi acolhida pelo rabi
Meyer.
“Uma
luz brilhante surgiu no canto dos olhos de Saleh. Ele apertou os olhos tentando
ver o que era. Um homem descia a rua em sua direção. Seu rosto era feito de
fogo.
Saleh
ficou embasbacado. Era impossível! Por que o homem não queimava? Não sentia
dor? Ele não parecia sentir nada: tinha um ar indiferente em seu olhar
brilhante, um meio sorriso nos lábios.”
Uma história bonita, mas cheia de dores e percalços.
Quem acreditaria que pudesse existir uma amizade entre um Djim e uma Golem?
Histórias assim nos fazem viajar por mundos completamente impensáveis, e é
muito gratificante.
“Ele
chegou ao centro do cruzamento e olhou novamente para a Golem, indeciso, até
perceber que ela não era humana, mas um pedaço de terra animado.
Ele
ficou paralisado. O que ela seria?”
26. Mentirosos, de E. Lockhart
O livro nos fala sobre Cadence, uma garota que se
tornou um tanto estranha após alguns acontecimentos. Ela, junto com os três
primos, são os Mentirosos que dão título ao livro.
“Não
discutimos nossos problemas em restaurantes. Não acreditamos em demonstrações
públicas de angústia. Nosso lábio superior é rígido e é possível que as pessoas
fiquem curiosas a nosso respeito porque não abrimos o coração.
É
possível que apreciemos o modo como as pessoas ficam curiosas a nosso
respeito.”
Eles passam os verões
sempre juntos na ilha da família, são inseparáveis.
Uma linda história, com
alegrias, tristezas e grandes revelações.
27. A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells
A Terra é invadida por extraterrestres. Quem nunca se
interessou por esse tipo de história? Mas essa é uma história incrível, e como
diz no próprio livro, provavelmente a primeira história de invasão da Terra
(1898).
“Então,
avançando em sentido oblíquo em nossa direção, surgiu um quinto. Seus corpos
blindados brilhavam ao sol enquanto eles se moviam em velocidade em direção aos
canhões, tornando-se rapidamente maiores enquanto se aproximavam. O mais
distante, à esquerda, brandiu uma enorme cápsula no ar, e o fatal e terrível
raio de calor, que eu já vira na noite de sexta, abateu-se sobre Chertsey e
fulminou a cidade.”
O livro narra a invasão da terra, o domínio pelos
marcianos e todo o caos advindo disso. Quando foi adaptada para o rádio e
transmitida por Orson Welles em 1938, provocou pânico na população dos EUA,
pois todos acreditavam que estavam sob ataque alienígena.
Ótimo livro e muito bem escrito.
28. Tubarão, de Peter Benchley
Um grande tubarão branco surge no pequeno balneário de
Amity. A delegacia de polícia local era dirigida pelo chefe Brody, que teria
que lidar com o problema do bicho a partir de agora. Só que além do tubarão,
Brody terá também que lidar com a máfia, e com todos aqueles que não têm
interesse nenhum em fechar as praias e perder os veranistas.
“Os
olhos não enxergavam no escuro e os outros sentidos não emitiam nada de
extraordinário ao cérebro pequeno e primitivo. O peixe deveria estar dormindo,
exceto pelo movimento ditado por incontáveis milhões de anos de continuidade
instintiva: à falta de uma bexiga de flutuação, comum a outros peixes, e de
aletas móveis para liberar a água carregada de oxigênio por entre suas guelras,
ele só sobrevivia caso se movimentasse. Uma vez parado, afundaria até o fundo
do mar e morreria por asfixia.”
Uma história muito bem escrita, com parágrafos quase
poéticos. O autor consegue elevar o tubarão a além de um “simples” tubarão.
29. Vertigo (Um Corpo que Cai), de Boileau-Narcejac
Madeleine... A mulher que era, que é, e que ainda
será.
Uma narrativa que mistura paixão e obsessão, além de
loucura e perdição. Um homem contrata o amigo para seguir sua esposa e
descobrir o que está acontecendo, pois ele anda “agindo estranhamente”. O amigo
se apaixona obsessivamente pela mulher, e a partir disso se desencadeia sua
perdição.
“Há
rostos que esquecemos; eles se gastam; o tempo os rói como àquelas figuras de
pedra, nos umbrais das catedrais, cujas testas e faces pouco a pouco perderam o
modelado, a palpitação da vida.”
Muito bom o livro, que foi adaptado para os cinemas
por Alfred Hitchcock. A narrativa te prende, às vezes é impossível largar o
livro.
30. O Homem mais Procurado, de John Le Carré
O livro narra a história de Issa Karpov, que faz jus
ao título do livro. Issa é um imigrante checheno que entrou ilegalmente em
Hamburgo, e é o herdeiro de um importante cliente do banco da cidade. Ele só
quer estudar para ser médico, mas as coisas estão completamente fora de
controle e ele, prestes a ser deportado, caso seja encontrado.
“—
Bem, esta é a nossa situação, amigos. Estamos procurando um homem que não
possui patrimônio nem qualquer relação com a normalidade. Sua ficha diz que é
um militante checheno-russo que comete crimes violentos, foge de uma prisão
turca por meio de suborno, e diga-se de passagem, que diabos estava fazendo
lá?, foge da polícia portuária sueca, paga para voltar ao navio do qual
desembarcara, entra ilegalmente no porto de Copenhague, aluga um caminhão de
Copenhague para Hamburgo, aceita um copo de bebida de um velho gordo maldito
com quem conversa em só Deus sabe que língua e usa um bracelete de ouro com o
Alcorão. Esse homem merece um respeito considerável. Amém?”
Com a ajuda do banqueiro Tommy Brue e a proteção de
sua advogada Annabel, ele precisa se esconde até ter o que precisa para
regularizar a sua situação e poder parar de fugir.
A narrativa é empolgante, cada página do livro é uma
nova surpresa, e foi brilhantemente adaptado para o cinema.
31. The Game – Volume 1, de Anders de la Motte
Esse é o primeiro volume da trilogia The Game.
Henrik Petterson, mais conhecido como HP, é um rapaz
de seus 30 anos, problemático, que vive se metendo em confusão e tem uma irmã, Rebecca,
que trabalha na polícia.
Ao encontrar no trem um celular de última geração, ele
acaba se envolvendo com o Jogo, cujas missões lhe rendem dinheiro e as
consequências são as mais diversas. Quanto mais alto o nível do jogador, maior
o impacto causado pelas missões. Tudo parecia maravilhoso, até que ele quebra a
Regra Número Um e sua vida se transforma em um thriller de ação.
“Regra 1: Nunca fale com ninguém fora da comunidade do
Jogo sobre o Jogo.”
Agora HP precisa descobrir quem está por trás do Jogo
para conseguir se livrar dele... ou voltar a jogar!
“Continuou
correndo em pânico, tentando fazer zigue-zagues pra se tornar um alvo mais
difícil, como se faz no Counterstrike.
Mas isso era a vida real e não a porra de um jogo de computador!”
Com mais duas sequências, o volume 1 termina melhor
que do que começou, o que não quer dizer muita coisa. Agora é esperar que os
volumes 2 e 3 sejam um tanto melhores.
32. The Game – Volume 2, de Anders de la Motte
O segundo volume da trilogia foca bastante em Rebecca,
ali descobrimos muito do que aconteceu com ela e a deixou tão marcada.
“Só
existe três tipos de cidadãos: policiais, prisioneiros e aqueles que ainda não
foram pegos.”
HP está mais louco e enrolado do que antes, e não
fazemos ideia de onde isso vai parar.
“Só
quando conseguiu sair em direção à luz e ver as pessoas apontando para ele que
percebeu que sua camisa estava ensopada de sangue.”
O primeiro era mediano, meio manjado. Esse segundo é
bem frenético em alguns pontos, mas mantém a linha do primeiro.
33. The Game – Volume 3, de Anders de la Motte
Finalizando a trilogia de forma bem morna e
inexplicável (diante dos rumos tomados), será que temos realmente a revelação
de quem é o Mestre do Jogo?
“A
cobra era enorme, eu corpo com um padrão em zigue-zague devia ter uns dez
centímetros de largura em seu ponto mais grosso. Estava lá deitada, enrolada
bem ao lado do seu pé direito, coberto apenas pela meia. A cabeça em formato de
seta estava levantada e a criatura estava remexendo sua língua irritadamente
enquanto o som do chocalho no final da cauda se tornava cada vez mais alto.”
Enfim, a história foi bem dividida em seus três
volumes, mas é bem machista e faz uso excessivo de palavrões.
No geral deixa a sensação de que eu poderia ter
investido minha grana em 3 outros livros que talvez fossem melhores que esses.
Ou ainda, que poderia ter dedicado meu tempo a algo melhor.
34. Psicose, de Robert Bloch
Uma história conhecidíssima, adaptada por Hitchcock,
com ênfase para a famosa cena do chuveiro.
Norman Bates é um homem com sérios problemas
psicológicos. Ele e a Mãe possuem um motel em uma estrada secundária, onde os
hóspedes são um tanto escassos.
“Era
como se fosse duas pessoas, na verdade – a criança e o adulto. Quando pensava
na Mãe, ele voltava a ser criança, usava vocabulário de criança, referências e
reações infantis. Mas quando estava sozinho, não; em verdade, não sozinho, mas
afundado em um livro, era um indivíduo maduro. Maduro o suficiente para
compreender que talvez fosse vítima de uma forma leve de esquizofrenia, ou
provavelmente uma neurose na fronteira dela.”
Mary Crane é a garota que depois de roubar o dinheiro
do seu chefe decide fugir, indo parar no motel dos Bates.
A história é toda muito bem escrita, em poucos
momentos podemos quem sabe vislumbrar algo que virá à tona no final, aliás, é
tudo tão bem amarrado que fica bem difícil desconfiar.
Excelente!
35. A Fantástica Fábrica de Chocolate, de Roald Dahl
Charlie Bucket é um menino pobre. MUITO POBRE.
Ele vive com a família – pai, mãe, Vovô José e Vovó
Josefina, Vovô Jorge e Vovó Jorgina – no final da rua, no finzinho mesmo, e
muitas vezes eles não têm quase nada para comer. Na maioria das vezes tem sopa
de repolho, mas depois que a fábrica de pastas de dente onde o pai de Charlie
trabalhava fechou, talvez nem a sopa de repolho eles teriam.
“Ele
tinha uma vontade enorme de comer alguma coisa eu satisfizesse mais do que
repolho e sopa de repolho. E que ele
mais tinha vontade de comer, mais do que tudo, era... CHOCOLATE.”
Willy Wonka é dono da famosa fábrica de chocolates
Wonka, e decide, depois de muito tempo recluso, abrir as portas da fábrica para
5 crianças que encontrassem os 5 cupons dourados escondidos em barras de
chocolate Wonka. Contra todas as expectativas Charlie é um dos sortudos e vai
para a visita com Vovô José, e pela primeira vez em sua vida ele pode comer
todos os doces que tiver vontade.
A história é muito bonita sensível, e só quem tiver um
bom coração conseguirá chegar ao final dessa empreitada.
36. Amityville, de Jay Anson
Baseado em uma história real, o livro nos conta a
história da família Lutz, que depois de se mudar para a “casa dos seus sonhos”
em Amityville, se vê acossada por manifestações demoníacas, que começaram em
princípio devagar, mas que aos poucos foram se tornando cada vez mais
frequentes e perigosas.
A narrativa chega a ser assustadora em determinados
pontos, e tanto a família, quanto o padre envolvido no caso tiveram sérias
consequências.
“A
luz cheia era como uma enorme lanterna, iluminando o caminho. Ele olhou para a
arte de cima da casa e parou de supetão. Seu coração dava pulos. Na janela do
quarto de Missy no segundo andar, George conseguia ver a menininha o
observando, os olhos seguindo seus movimentos. ‘Oh, Deus!’, ele soltou um
sussurro alto. Bem atrás da filha, assustadoramente visível para George, havia
a cabeça de um porco! Tinha certeza de que podia ver os olhinhos vermelhos o
encarando!”
Por fim a família acabou abandonando a residência
depois de 28 dias de tormento.
A casa havia sido, um ano antes, palco de uma chacina,
em que o filho matou a tiros toda a família.
Depois que os Lutz abandonaram a casa foram realizadas
sessões mediúnicas para tentar descobrir que forças estavam agindo ali. É nesse
momento que são mencionados Ed e Lorraine Warren, protagonistas do próximo
livro da lista.
Excelente e assustador!
37. Ed e Lorraine Warren: Demonologistas, de Gerald Brittle
Ed e Lorraine formam um casal que juntos ajudaram
milhares de pessoas. Ed, um demonologista, e Lorraine, uma clarividente e
médium. Na década de 50 eles fundaram a Sociedade da Nova Inglaterra para
Pesquisas Psíquicas. Viajaram boa parte do mundo investigando casos envolvendo
atividades demoníacas, em diversos estágios, muitos inclusive resultaram em
exorcismos.
“Embora
o horror vivenciado durante a infestação seja terrível, ele é tão somente uma
preparação para o pandemônio eu tende a ocorrer no estágio seguinte. Ainda que
as perturbações durante a infestação seja inquietantes, irritantes ou
assustadoras, durante a opressão, o espirito começa a assumir o controle e a
usar todo o poder maligno que tem à sua disposição. Como coloca Ed: ‘Durante a
infestação, você tem um problema. Com a opressão, você tem um verdadeiro
transtorno’”.
O livro é composto por entrevistas feitas pelo autor
aos dois, e capítulos narrando casos, como o da boneca Annabelle, um pequeno
relato sobre Amityville e como eles atuaram no caso, entre outros. Alguns
relatos são bem assustadores, como o da família Backford, que se viu sob ataque
após a filha do casal mexer com um tabuleiro Ouija. Segundo eles, muitas
infestações decorrem do uso do tabuleiro, ou ainda de uma sessão espirita sem
acompanhamento de um profissional qualificado. É preciso ter muito cuidado com
isso.
“A
infestação significa basicamente que uma casa está mal-assombrada. A opressão
significa que os espíritos que assombram a casa estão tentando subjugar as
pessoas que vivem ali.”
O livro é extremamente bem escrito e de conteúdo
vasto. Foi publicado originalmente em 1980 e reeditado pela DarkSide em 2016,
em uma linda edição em capa dura e com registros fotográficos do caso Beckford.
“Afinal,
toda a violência e o terror que podem ocorrer durante os estágios de infestação
e opressão destinam-se nada menos que à possessão diabólica de um ser humano.
Se a opressão for bem sucedida, a porta de acesso à vontade fica simplesmente
escancarada. Então o indivíduo é invadido por uma, ou até uma multidão, de
entidades possessoras.”
Uma leitura um pouco mais densa, não é um livro para
se ler depressa, seu conteúdo é muito melhor absorvido se lido com calma,
afinal são relatos assustadores, informações científicas e outras informações
difíceis de digerir.
38. Fábrica de Vespas, de Iain Banks
Em um primeiro momento é um livro estranho, mas aos
poucos vamos nos “acostumando” com a história.
“Dei
de ombro novamente. É claro que eu estava matando coisas. Como diabos eu
conseguiria cabeças e corpos para as Estacas e o Abrigo se eu não matasse
coisas? Não acontecem mortes naturais o bastante. Mas não dá para explicar isso
às pessoas.”
Temos a história de um garoto que vive com o pai, e
que tem manias estranhas, e ele próprio é bastante estranho e de intensos
sentimentos.
É um livro tenso e perturbador, com um final chocante
e surpreendente.
“Meu
irmão Paul tinha cinco anos quando o matei. Eu tinha oito.”
39. Reparação, de Ian McEwan
Esse foi o terceiro livro de Ian McEwan que li, os
anteriores foram os excelentes Serena e Amsterdam. É característico do autor
explicitar os mais profundos sentimentos dos personagens, e sua escrita envolve
o leitor de tal forma que se torna quase impossível parar de ler.
“Ela
havia lido o bilhete no centro do hall de entrada, desavergonhadamente,
sentindo de imediato o perigo contido naquela crueza. Algo de inexoravelmente
humano ou masculino, ameaçava a ordem da família, e Briony sabia que, se ela
não ajudasse a irmã, todos sofreriam. Era igualmente claro que seria necessário
ajudá-la, com muito tato e delicadeza. Caso contrário, como Briony sabia por
experiência própria, Cecília haveria de se voltar contra ela.”
Em Reparação, vemos na inocência de uma criança uma
enorme tragédia sendo desenhada. Uma interpretação errada, um medo absurdo do
que viria a acontecer caso ela não intervisse, fez com que Briony, a irmã mais
nova, a criança, cometesse seu crime, como o próprio livro designa sua atitude.
Muitos anos depois, já quando não havia mais como reparar seu erro, ela vive
ainda com a culpa por ter destruído a vida de sua irmã Cecília e seu grande
amor Robbie.
É um livro extremamente bem escrito, dá algumas pistas
do que está por vir lá na frente, mas sem entregar o desfecho, o que faz com
que tenhamos a esperança de que tudo seja reparado e que as coisas entrem nos
eixos. O filme Desejo
e Reparação, baseado no livro, consegue captar a essência dos
personagens e da história de forma bem interessante.
Uma leitura triste, crua, e muito sensível.
40. Harry Potter e a Criança Amaldiçoada – partes um e dois, de J.K. Rowling
Uma nova história sobre Harry Potter, dezenove anos
depois dos eventos de As Relíquias da Morte. O livro é o roteiro de uma peça
teatral, então a leitura não é tão fluida quanto um livro “normal”.
É uma narrativa interessante, onde vemos Harry, Rony,
Hermione e Gina com seus filhos e seu trabalho, e a inesperada iminência do
retorno de Voldemort.
“Agora
vamos... Não sei do que você está brincando, mas está perturbando os
dementadores e estragando completamente o Dia de Voldemort.
E a ofidioglossia sussurra cada vez mais alto. Fica
monstruosamente alta. E faixas gigantescas com símbolos de cobra descem pelo
palco.”
Achei o livro bem fraco, não faz jus à complexidade e
narrativa dos livros da série. Enfim.
Foi um ano bem interessante no que diz respeito à
leitura, foram vários livros, vários autores e inúmeros lugares visitados. Dessa vez não vou enumerar um top 5, foram muitos livros bons em 2016. E
que venham muitos livros bons como esses em 2017!
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